[3M1R 001] O Silêncio dos Túmulos


Título: O Silêncio dos Túmulos

Autor: Silva

Genero: Ação, drama, ficção científica, terror

Meio de publicação: Online (clique aqui ou aqui )

 Sinopse: Após um vírus letal atingir a humanidade e fazer os mortos voltarem para aterrorizar os vivos, o mundo nunca mais será o mesmo. No Nordeste brasileiro, um sobrevivente busca uma cura enquanto grupos hostis brigam pelo poder.



   Que atire a primeira pedra aquele que nunca experimentou a mais corriqueira das fantasias juvenis e se imaginou num apocalipse zumbi!

   Bem... como esperava, posso continuar ileso...

   “Meu avô dizia: O Norte pode ser uma floresta abandonada, mas o Nordeste é o rabo do Brasil. Ninguém se importa com gente pobre. Ao menos ele morreu antes de toda essa merda acontecer. Enquanto eu estou tentando sobreviver nesse inferno. Dor, sangue, cansaço, fome e sede. Tenho que lidar com o infortúnio de estar vivo, embora a morte esteja ali na esquina, me esperando de braços abertos como uma prostituta. ”

   A figura tão conhecida do morto-vivo, geralmente num estado deplorável e assustador, foi estabelecida, embora não criada, por George A. Romero no seu famosíssimo A Noite dos Mortos-Vivos, como é bem conhecido, usando de inspiração o romance Eu Sou a Lenda do Richard Matherson e, desde as décadas em que ambas as obras foram lançadas ao público, inúmeros escritores e diretores dos mais diversos gêneros da ficção ampliaram a mitologia que se concretiza em cada palavra, linha ou parágrafo, do que hoje compõe O Silêncio dos Túmulos.

Arte por Estella Monteiro

   Logo no primeiro capítulo o leitor é lançado à companhia do misterioso protagonista, apelidado de Lampião, e sua luta pela sobrevivência em uma versão desolada da capital pernambucana, fruto de uma pandemia que foi negligenciada e escalonou até a completa queda da sociedade moderna. Está mistura, no mínimo interessante, segue uma narração em primeira pessoa —, mas não se limitando exclusivamente ela, recortes de notícias e mudanças de personagem-foco também ocorrem no decorrer da trama para uma melhor assimilação de um mundo crível carregado de elementos clássicos do gênero como conflitos entres pequenos núcleos de poder com métodos de lideranças diferentes (A Utopia, as Bruxas e os Cruzados) —, abordando características recorrentes da temática como busca de alimento, suprimentos e um lugar seguro enquanto o mundo perde seus lastros sociais e as pessoas se tornam o maior perigo umas para as outras.

   “Depois de cinco anos convivendo com monstros que saíram dos túmulos, eu tinha me esquecido desse horror, dessa sensação de impotência diante de tamanha brutalidade. Eu tinha me esquecido dos piores monstros que caminhavam entre nós: Os seres humanos. ”

Arte por Kaori`s Coffee

   Um forte atrativo e um dos pontos mais interessante a ser destacado é a releitura moderna de diversos personagens históricos nacionais, Zumbi dos Palmares, Tiradentes, o próprio Lampião já citado e a Maria Bonita são presenças marcantes no núcleo principal da história. O autor alia isto uma ambientação palpável para criar uma leitura totalmente regional, fluida e agradável, que se mantem na sua proposta original da primeira ao ponto final.

   “Duas bandeiras foram hasteadas, uma à esquerda e outra à direita. A primeira era do Brasil, surrada pelo tempo, com cores desbotadas e alguns rasgos. A segunda era o símbolo da Utopia, mas diferente da arte em grafite, as mãos negras estavam salpicadas com tinta vermelha. Ouvi palavras de lamentação, o pranto de uma viúva pelo marido e o grito de uma mãe ao saber o destino de um filho. Zumbi permaneceu em silêncio, sentado nos degraus da paróquia enquanto olhava a expressão triste nos rostos deles.  Depois de um tempo, finalmente ergueu-se e começou a falar”. 

   Entretanto, até para os devotos de TWD há momentos questionáveis em que a trama explora certas conveniências para andamento da trama. Recursos de roteiro são comuns, mas para o bom uso devem ser escondidos do leitor mais atento e nunca podem privilegiar os personagens em demasia. Certas cenas de O Silêncio dos Túmulos saltam a vista fazendo o oposto, seja em prol de personagens ou um evento especifico. O que, às vezes, acaba incômodo.

Arte por Felipe Hasashi

   “— Recursos chamam as pessoas, Lampião. Desde... sempre. Mesmo quando os portugueses tiravam o pau-brasil das nossas terras. Foi a mesma coisa com a cana aqui em Pernambuco, o ouro em Minas Gerais ou o café em São Paulo. Recursos compram e vendem pessoas. Sempre desesperadas, correndo até a bola da vez, colocando correntes em si mesmas. ”

   Por fim, seria injusto deixar de destacar o show de referências literárias e musicais mostradas antes e durante os capítulos, incluindo as trilhas sonoras interpretadas pelo próprio autor.

   A mensagem é bem clara. 

   Apesar do caos no mundo a arte nele presente ainda permanece e a maneira como ela e a narrativa conversam em equilíbrio com a dinâmica de ação rápida e a tensão presente já nos instantes inicias da trama enchem os olhos durante a leitura e criam o desejo de continuar mesmo após o ponto final. 

   “Diante dos meus olhos, lá estava a maldita Peste em carne e osso. Uma mulher com a pele acinzentada e apodrecida estava se aproximando da moto, vindo em minha direção. Olhos cinzentos e sem vida me fitaram. Sua mandíbula era exposta, lhe faltavam dentes e os poucos que restavam na gengiva eram pretos. Ela manteve a boca aberta, rosnando e babando. ”

Zumbi e Lampião por Matheus Passos

   O Silêncio dos Túmulos já conta com mais de dez capítulos e tem pretensões de se encerrar por volta do vigésimo, suas atualizações são regulares e costumam trazer um desenvolvimento satisfatório. Divertido e único a seu modo. Sem dúvidas, uma leitura a ser considerada.

Comentários

  1. Como um mero escritor amador que sou, eu sequer tenho palavras pra agradecer. Cara, Silêncio é um projeto meio maluco e que ainda persiste por causa de leitores incríveis e gente boa demais igual a você. Valeu imensamente por essa resenha primorosa. Nem parece que já fazem quase dois anos desde que comecei a escrever. Abraços parceiro! Tamo junto!

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